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CORPUS CHRISTI


HOMILIA DE CORPUS CHRISTI 2018 ANO B

Hoje a Igreja te convida: O pão vivo que dá vida Vem com ela celebrar.

Este pão – que o mundo creia – Por Jesus na santa Ceia Foi entregue aos que escolheu.

Eis o pão que os Anjos comem Transformado em pão do homem; Só os filhos o consomem: Não será lançado aos cães.

Em sinais prefigurado, Por Abraão imolado, No cordeiro aos pais foi dado, No deserto foi maná.

Bom pastor, pão da verdade, Tende de nós piedade, Conservai-nos na unidade, Extingui nossa orfandade E conduzi-nos ao Pai.

Aos mortais dando comida, Dais também o pão da vida: Que a família assim nutrida Seja um dia reunida Aos convivas lá do Céu.

Celebramos, hoje, a força de um pacto que tem como frutos a geração não de homens e mulheres, mas de filhos e filhas de Deus. Em tempos idos, aqui pelas regiões do pampa, quando os homens faziam um trato, um pacto, um negócio eles não precisavam de papel, assinatura ou cartório, se arrancava um fio de bigode e se entregava como sinal de fidelidade. Ninguém ousava pensar que os compromissos não seriam saldados. O Pacto que hoje celebramos não foi firmado com papéis e tampouco com o fio de bigode, já teria um grande valor se assim fosse, mas foi formalizado, selado com sangue que para os povos antigos significava vida, ou seja, que se colocava a vida como cláusula, quer dizer, não se volta atrás.

Deus se revelou a Moisés e propôs um pacto, se o povo cumprir a vontade de Deus será o seu povo, terá vida e será muito abençoado. A cláusula é o cumprimento da vontade e a vontade está expressa racionalmente nos mandamentos. No entanto, os homens tem necessidade de sinais para formalizar seus atos, assim como o gaúcho de pouco tempo atrás celebrava seus pactos pelo fio do bigode, Moisés e o povo, após ouvirem a proposta de Deus a aceitaram e formalizaram o aceite através de um ritual: sacrifício de animais, sangue repartido e uma parte oferecida a Deus e outra aspergido sobre as pessoas, diante de uma oração. No mundo antropológico e espiritual o mexer com sangue é algo sério!

Infelizmente esse mesmo povo foi infiel a Deus e quebrou a Aliança, o pacto e merecia a morte. Porém, através de uma série de sacrifícios, derramamento de sangue em rituais pedia perdão e tentava se justificar e se reconciliar com o Sagrado, mas era insuficiente. Então Deus enviou seu Filho, Jesus na última ceia, pôs-se no lugar dos sacrifícios antigos e o fez através de um rito que pediu aos apóstolos que perpetuassem como sinal sagrado para que todos pudessem dele participar.

Jesus Cristo inaugurou um novo culto, que é sem dúvida plenamente espiritual, mas que, no entanto, enquanto estivermos a caminho no tempo, ainda se serve de sinais e ritos que só virão a faltar no final, na Jerusalém celeste, onde já não haverá templo algum. Assim sendo, o Filho não veio abolir, mas completar, levar ao cumprimento o Sagrado. Em Cristo a sacralidade é mais verdadeira, mais intensa e como os mandamentos é mais exigente. Não é suficiente a observância ritual, exige-se a purificação do coração e o compromisso com a vida.

Vivemos em comunidade, participamos da Missa em comunidade, o papa Francisco nos falando da Eucaristia, nos diz que Jesus nos ama igualmente a todos, diante Dele não há distinções. Somos capazes de nos unir aos outros na celebração? Unir o coração a alegria daqueles que na Missa estão felizes por celebrarem bodas, votos, aniversários ou achamos isso uma chatice e preferimos fechas os olhos o tempo todo esquecendo o nosso em torno? Somos capazes de nos compadecer com aqueles irmãos que na missa estão enlutados ou entristecidos por alguma dificuldade em suas famílias ou crise interna ou ficamos indiferentes como estátuas de gesso?

Como pecadores que sempre ao início da missa tomamos consciência do que e de quem somos, pedimos misericórdia e entramos, pela força da oração da Igreja, associados a graça do Espírito Santo, não num teatro, mas naquela noite santa em que o Senhor Jesus instituiu a Eucaristia, sua grande ação de graças. Dentro da missa estamos inseridos no maior de todos os mistérios, somos colocados diante do Filho de Deus; e diante do mistério não se fica raciocinado, mas se contempla. Dizia o papa Bento XVI que o amor autêntico e a amizade verdadeiras vivem sempre da reciprocidade de olhares, de silêncio intensos, eloquentes e repletos de respeito, admiração e veneração gerando um encontro profundo, pessoal e não superficial.

Comunhão e contemplação não se podem separar, o rompimento desta união gera vazio de presença que não é verdadeiro. No século XIII a Igreja instituiu a celebração de Corpus Christi para afirmar, diante de quem duvidava, que Ela crê na presença real do Filho de Deus no pão eucarístico que permanece mesmo após a celebração da Missa. Tanto é verdade que para os antigos a capela, a Igreja era sempre a construção central de um povoado, de uma vila, de uma cidade, de um seminário, de um mosteiro porque dentro dela pulsava dia e noite uma presença sagrada que irradia vida. Nossas Igrejas foram tão belamente construídas para nos recordar cotidianamente que Deus vive, habita em nosso meio. Como é bom podermos entrar em qualquer igreja católica do mundo e, ao vermos a lamparina do sacrário acessa, termos a certeza da presença real de Jesus eucarístico entre nós, presença essa que acende o meu coração e me faz exclamar “estou em casa na casa do meu Pai”.

Muitos tentaram tirar essa sacralidade, mesmo dentro da nossa Igreja, em tempos muito próximos a nós, e o que nos deixaram? A herança de um tremendo vazio existencial e espiritual. Igualmente, muitos na sociedade de hoje são incapazes de contemplar e, por isso, vivem vazios, sem nada por dentro. Nós somos convidados a testemunhar que na Eucaristia há uma presença que nos preenche, que dá sentido as nossas vidas, que nos dá alento. E que qualquer pessoa que vier numa atitude de oração diante deste alimento, tão simples e ao mesmo tempo tão divino, majestoso poderá encontrar-se com o mistério, poderá se alimentar do pão dos anjos e tornar-se membro da família dos filhos de Deus.

Celebramos hoje a gratidão pelo maior presente, maior tesouro que a nossa Igreja possui a Eucaristia, nos tirem tudo, mas não mexam no corpo do Senhor, porque somos capazes de dar a nossa vida por Ele, como Ele deu a sua por nós.


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